Adesivos de borboleta apareceram nas UTIs Neonatais - e o que isto significa é de partir o coração

Dê uma olhada em qualquer UTI Neonatal e encontrará alguns dos mais frágeis pacientes de um hospital lutando para crescer e sobreviver. No entanto, você pode avistar algo inesperado: um berço decorado com um adesivo roxo no formato de uma borboleta. A verdade é que este pequeno adesivo não serve apenas como enfeite; o real significado por trás desse item é realmente de cortar o coração.

Hoje em dia, os hospitais ao redor do mundo usam a borboleta roxa como um símbolo bastante sutil. Enquanto algumas instituições colam tais adesivos nos berços dos recém-nascidos, outras colocam cartões plastificados nas portas que levam aos quartos de certos pacientes. Porém, independentemente de onde as representações desse inseto sejam vistas, elas estão lá por um motivo.

A mulher por trás deste projeto, Millie Smith, escolheu a borboleta roxa por uma razão muito específica. Nas UTIs Neonatais e nos berçários hospitalares, é tipicamente usada a cor azul para representar os meninos e a rosa para as meninas, certo? Já a borboleta roxa caracteriza ambos, pois combinando azul com rosa a tonalidade criada é a roxa.

Contudo, as borboletas roxas nas UTIs Neonatais indicam mais do que somente o nascimento de um bebê. Smith surgiu com o conceito depois de passar por uma triste situação e, agora, sua ideia ajuda os pais nos hospitais do mundo todo em relação ao momento em que estão passando.

A jornada de Smith até a borboleta roxa começou em novembro de 2015. Naquela época, ela descobriu que estava grávida e - mesmo sem a confirmação de um médico - tinha certeza que eram gêmeos. Afinal, sua família possuía um longo histórico de nascimentos múltiplos.

Assim, com dez semanas de gravidez - no terceiro mês de gestação -, Smith e seu parceiro Lewis Cann descobriram que sua suposição era verdadeira! Pois é, logo eles seriam pais de gêmeas - um par de meninas idênticas. Entretanto, toda aquela alegria teve fim quando a médica de Smith realizou um outro exame de ultrassom após algumas semanas.

Em 2016, Smith contou à Today: "Durante o exame, a médica não abriu a boca. Eu estava muito animada, adorando ver as bebês, mas a doutora ficou em silêncio". Por causa dessa reação, a futura mamãe e seu parceiro acabaram notando que algo não estava certo. Smith continuou: "Tanto Lewis quanto eu soubemos na hora que havia um problema".

Infelizmente, o casal tinha razão. A médica de Smith trazia algumas terríveis notícias àqueles futuros pais. Ao que parece, uma de suas filhas possuía anencefalia, a qual é uma rara doença que impede o fechamento completo do tubo neural do feto. Isto, por sua vez, significa que o cérebro não se desenvolve como deveria.

Smith e Cann ficaram arrasados pelo diagnóstico. Em 2016, a então futura mamãe falou à BBC: "Contaram para mim que uma das minhas bebês não conseguiria sobreviver. O esperado era que ela vivesse por apenas alguns segundos". Aquilo colocou Smith e Cann diante de uma importantíssima decisão.

Naquele momento, o casal ponderou se deveria interromper a gravidez. Afinal, até a outra gêmea poderia enfrentar problemas durante a gestação. Por fim, Smith e Cann decidiram prosseguir - mesmo sabendo que teriam que lidar com a perda de pelo menos uma de suas filhas.

O casal não só resolveu seguir em frente com a gravidez, como também já deu nomes as suas filhas. Os futuros pais escolheram Callie e Skye, sendo este último destinado a bebê com anencefalia. Conforme Smith explicou em sua entrevista à Today, aquele etéreo nome fazia todo sentido para ela.

Primeiro, a futura mamãe observou que era importante para sua filha com anencefalia possuir um nome, independentemente de quanto tempo viveria. Ela disse: "Apesar de saber [que minha bebê] sobreviveria somente por segundos ou minutos, eu queria que ela tivesse um nome nesse meio tempo. Skye [que significa céu] ficaria para sempre em um lugar parecido com o seu nome. Podíamos olhar para cima e nos lembrar da nossa bebê".

Portanto, com 30 semanas de gravidez - no sétimo mês de gestação -, a hora de Smith conhecer suas filhas havia chegado. Em 30 de abril de 2016, no Hospital Kingston em Surrey, no Reino Unido, Smith entrou em trabalho de parto prematuro e precisou passar por uma cesárea de emergência para trazer, em segurança, Callie e Skye ao mundo.

Todavia, os médicos de Smith tinham conhecimento do que estava por vir para Skye e para a família que ela deixaria para trás. Dessa forma, uma profissional designada de parteira de luto - a qual proporciona assistência aos pais que estão sofrendo pela perda perinatal - foi levada à sala de parto de Smith. Aliás, aqueles novos pais também tiveram acesso ao Espaço Daisy no Kingston Hospital. Aquele lugar era dedicado aos pais cujos recém-nascidos estavam gravemente doentes ou já tinham falecido, dando a eles a privacidade necessária para passarem seus últimos instantes junto com seus filhos.

Evidentemente, o parto e as horas que se seguiram foram de pura emoção para Smith e Cann. Recordando da ocasião à Today, a mãe de Callie e Skye comentou: "Quando as meninas nasceram, ambas choraram. Esse foi um grande acontecimento, pois nos disseram que Skye não faria barulho algum nem se moveria".

Então, no Espaço Daisy, Smith e Cann tiveram a oportunidade de dizer adeus a Skye durante um período de três horas. Smith descreveu a situação: "Estávamos abraçando Skye quando ela faleceu. Foi o pior momento de nossas vidas. Nunca tinha sentido uma dor tão grande quanto aquela. Porém, estou orgulhosa por ela ter resistido por tanto tempo para estar conosco".

Antes de Skye dar seu último suspiro, no entanto, seus pais haviam conversado com ela. Em 2016, Smith expôs à Us Weekly: "Nós dissemos [a Skye] o quanto a amávamos. Eu falei a ela que sentia muito por não ter conseguido cuidar dela direito. Senti que a culpa era minha. Eu sabia que não era, mas sempre me senti culpada. Dissemos [também] que ela nunca seria esquecida".

Naquela circunstância, contudo, Smith possuía o amparo de uma preciosa pessoa: sua parteira de luto, Jo Bull. A respeito de Bull, a mãe declarou à BBC: "Ela estava lá quando Skye nasceu [e] quando faleceu. [E ela está aqui] quando estou tendo um dia ruim". Inclusive, uma parteira de luto é qualificada para fazer exatamente isso.

Bull contou à BBC: "Minha função é ajudar as mulheres que perderam seus bebês antes, durante ou depois do nascimento. No caso de Millie, como ela sabia o que aconteceria, eu estive envolvida desde o início". Entretanto, nem todas as mães que passam por essa experiência contam com esse sistema de apoio.

Bull enfatizou que, embora a taxa de natimortalidade permaneça um tanto estável no Reino Unido, nem sempre há adequada assistência aos pais que estão de luto. Ela revelou: "Ainda que todas as parteiras apoiem os pais no que estão passando, a função de um especialista não é amplamente oferecida".

Todavia, mesmo com a ajuda de sua parteira de luto, Smith sofreu após o nascimento das gêmeas. Ela teve que lidar não só com a morte de Skye, como também com o incerto destino de Callie, a qual precisou ficar na UTI Neonatal. À medida que os novos pais entravam e saíam do hospital, a história das gêmeas de Smith e Cann tornou-se cada vez menos familiar aos frequentadores da ala.

Smith mencionou à Today: "A maioria das enfermeiras estava ciente do que havia acontecido. No entanto, com o passar do tempo, as pessoas deixaram de falar sobre a Skye. Depois de cerca de quatro semanas, todos começaram a agir como se nada tivesse ocorrido. Ou seja, as famílias ao redor não faziam ideia da nossa situação".

Assim, um desses desavisados pais acabou fazendo um comentário a Smith que a machucou profundamente. Na época, um pouco antes de Callie por fim ir para casa, Smith encontrava-se ao lado de sua pequena na UTI Neonatal. Três pares de gêmeos também estavam por ali e, em um certo momento, todos os recém-nascidos começaram a chorar.

Logo, quando uma outra mãe viu Smith com apenas um bebê para cuidar, ela acabou sendo desagradável sem perceber. À BBC, a mãe de Callie e Skye descreveu a dolorosa ocasião: "Uma mulher que não sabia pelo que eu vinha passando, virou para mim e disse: 'Você tem sorte de não ter gêmeos'".

Após isso, Smith não conseguiu conter suas emoções. Ela falou à Us Weekly: "Até então, eu não tinha chorado na frente de nenhum daqueles pais. Porém, precisou só daquilo [para] eu sair correndo da sala aos prantos. O comentário acabou comigo. Eu não tive coragem de voltar e contar a ela nossa história".

Smith expôs à BBC que notou que a mulher não possuía intenção alguma de magoá-la, mencionando: "Eu sei que aquela mãe teria se sentido mal caso soubesse como suas palavras me afetaram". De qualquer maneira, foi aquela circunstância que fez com que Smith pensasse em um modo de livrar outros pais daquela mesma dor.

Ela relatou o que havia pensado: "Eu achei que deveria existir algo como um pequeno símbolo para que as pessoas soubessem que minha bebê tinha morrido". Rapidamente, a nova mãe surgiu com um conceito que acabaria por representar os recém-nascidos que não haviam conseguido sobreviver. Ela imaginou, portanto, que seria ideal um adesivo de borboleta em um tom roxo - para que representasse tanto os meninos quanto as meninas.

Se já existisse, tal símbolo provavelmente teria livrado Smith de passar por aquele triste momento com a mãe dos gêmeos. Ela revelou à Babble: "Nenhum dos outros pais sabia o que havia acontecido ou qualquer coisa acerca da Skye. Eu não tinha coragem de contar a eles o que ocorreu. Um simples adesivo teria evitado toda aquela situação".

Smith também pensou que o símbolo da borboleta era uma forma de anunciar aos outros a respeito da perda, caso os pais que estivessem passando pelo luto não se sentissem dispostos a mencionar. Ao Sutton & Croydon Guardian, em 2016, ela disse: "Em alguns dias eu não queria falar sobre isso, em outros eu falava. Pensei que podíamos colocar algo para que as pessoas entendessem o que tinha acontecido e que eu não queria falar daquilo".

A propósito, Smith não foi a única que pensou que a borboleta roxa - para "os bebês que voaram para longe" - era uma boa ideia, até porque o Hospital Kingston logo aderiu o conceito. Se outras instituições de saúde resolvessem seguir o exemplo, aquela mãe já tinha todo um plano em mente.

Smith comentou à BBC: "Ao invés de adesivos, as borboletas poderiam ser impressas em cartões e plastificadas. Cada hospital teria um modelo para fazer como desejasse". Bem, essas placas poderiam fornecer uma explicação àqueles que não estão familiarizados com o símbolo e até serem levadas para casa pelos pais.

Assim, para que isso desse certo, Smith e Cann criaram a Fundação Skye High. Esses pais, contudo, desejavam fazer mais do que somente compartilhar seu modelo de adesivo ou cartão pelo mundo. Eles queriam arrecadar um certo valor para ajudar outras famílias que viessem a passar pela dor da perda perinatal no futuro.

Desse jeito, Smith e Cann pretendiam juntar 10 mil libras esterlinas - aproximadamente 12.500 dólares - para pagar por um psicólogo que atendesse no Hospital Kingston. Como Smith revelou seu projeto da borboleta roxa por meio de uma postagem no Facebook, a fundação começou muito bem. Milhares de pessoas compartilharam a publicação, apoiando a ideia de Smith.

A verdade é que, após a perda de uma das gêmeas, a Fundação Skye High proporcionou um novo propósito na vida de Smith. Ela relatou à BBC: "O trabalho filantrópico foi algo bastante novo para mim, pois [antes] eu estava focada em minha carreira. Entretanto, estou aprendendo o tempo todo. Foi a minha maneira de lidar com o que havia acontecido; foi um ponto decisivo para mim".

Smith até descobriu que não estava sozinha nessa questão de transformar uma borboleta em um símbolo de perda. Visto que sua postagem no Facebook teve um grande alcance, uma outra organização entrou em contato. Ela esclareceu: "Fui contatada pelo Grupo de Pesquisa Neonatal, [o qual] possuía o Projeto Borboleta, que fazia um trabalho semelhante ao meu".

No final das contas, a ideia viralizou! Smith contou à Us Weekly que mais de 100 hospitais haviam falado com ela sobre o conceito da borboleta. Aliás, inúmeras pessoas ao redor do mundo doaram para apoiar o projeto e o outro objetivo da Fundação Skye High de ajudar as famílias em um de seus momentos mais difíceis.

Tanto Smith quanto sua parteira de luto explicaram como aquele apoio é fundamental às mães e aos pais que perderam seus filhos. Bull comentou à BBC: "Acho que deveríamos falar mais sobre isso, pois quanto mais falamos com amigos, familiares e outras pessoas, é mais provável de ouvir alguém que tenha passado pela mesma situação".

As borboletas auxiliariam a resolver outro dos problemas que muitas vezes surge às famílias que estão passando pelo luto. Bull explanou: "[A perda perinatal está] começando a ser discutida, mas ainda é classificada como um tabu. A última coisa que as pessoas que estão passando por isso desejam é que os outros ignorem o assunto. É terrivelmente perturbador".

Smith sabia bem como era isso, tanto que esperava que seu projeto da borboleta roxa e outras iniciativas beneficentes ajudassem aqueles que vinham lutando contra a grande dor do luto. Ela mencionou: "As pessoas não falam sobre a perda de um bebê; elas se sentem desconfortáveis. Até algumas enfermeiras não sabem o que dizer".

Portanto, quando suas borboletas apareceram nos hospitais do mundo inteiro, Smith sentiu-se orgulhosa de suas ações terem iniciado aquilo. Ela concluiu: "O que mais me orgulha é que as pessoas tem falado sobre isso. Quero dar apoio às famílias, à ideia das borboletas e a qualquer outra coisa que possa fazer a diferença".